De janeiro de 2019 a novembro deste ano, cem municípios gaúchos não registraram homicídios, feminicídios e latrocínios — classificações reconhecidas como crimes contra a vida. O índice corresponde a 20,1% das 497 cidades do Rio Grande do Sul.
O levantamento feito por GZH Passo Fundo a partir dos dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP-RS) atualizados nesta segunda-feira (4), mostra que, em comum, os cem municípios são de pequeno porte, com população que varia de 1,1 mil a 7,1 mil habitantes. Destes, 38 ficam na Região Norte.
Vila Maria, a cerca de 45 quilômetros de Passo Fundo, é um deles. Lá, alguns dos pouco mais de 4,3 mil moradores até têm dificuldade de lembrar quando foi a última vez que um crime violento aconteceu.
— Eu acho que já faz uns 10 ou 12 anos... Certo mesmo eu não posso dizer — tenta relembrar a vendedora Cecília Luvisa, que mora em Vila Maria há 30 anos.
Pelas ruas, os relatos são semelhantes assim como o sentimento de segurança.
— Moro aqui há 22 anos, me sinto bem segura, gosto muito da cidade. Acho bem calma, bem tranquila — diz a operadora de caixa, Alessandra Carvalho.
Segundo a prefeitura, para manter a segurança do município houve investimento em tecnologia e infraestrutura. Cerca de 30 câmeras de videomonitoramento foram espalhadas pelo município, que é cortado pela RS-324, uma das rodovias mais movimentadas do norte gaúcho.
Dos 38 municípios da Região Norte sem registros de homicídios dolosos, feminicídios e latrocínios, 23 são de abrangência do Comando Regional de Policiamento Ostensivo do Planalto (CRPO). Conforme o comandante, tenente-coronel Cilon Freitas, um dos pontos trabalhados pela Brigada Militar é a proximidade entre a corporação e as comunidades.
— Mantemos, no mínimo, cinco policiais em cidades menores. Assim nós conseguimos fazer uma capilarização do policiamento e isso tem levado ao interior uma segurança maior e rapidez no atendimento, além da proximidade dos policiais com a comunidade — aponta o militar.
Através das investigações, a atuação da Polícia Civil também é um dos fatores de manutenção do índice zero nos municípios. Segundo o delegado responsável pela 6ª região policial, Adroaldo Schenkel, a taxa de resolução de crimes contra a vida no norte gaúcho é superior a 85%, o que ajuda a manter criminosos longe das ruas.
Os dados da SSP-RS indicam que a ausência de crimes contra a vida é um fator comum a municípios com até 7 mil habitantes. Das cem cidades, a menor é União da Serra, com 1.171 moradores, e a maior é Augusto Pestana, na região Noroeste, com 7.146. Além disso, chama a atenção que a Região Metropolitana e o Litoral Norte não têm nenhum representante na lista.
Enquanto a Região Norte tem 38 municípios sem registro de homicídios, feminicídios e latrocínios nos últimos cinco anos, completam a lista 16 cidades no Noroeste, 15 no Vale do Taquari, 13 na Serra, cinco na Região Central, quatro no Vale do Caí, três na Zona Sul e dois na Fronteira. As regiões das Missões, Campanha, Vale dos Sinos, Vale do Rio Pardo e Vale do Paranhana aparecem com um município cada.
De acordo com a SSP-RS, outra característica comum entre a maioria dos cem municípios sem registro de crimes contra a vida é o investimento feito na segurança pública.
— Muitos desses municípios investiram em tecnologia para apoiar as forças de segurança, em especial o videomonitoramento e cercamento eletrônico. Essas, eu diria, são as tecnologias mais efetivas para as ações de prevenção de parte da Brigada Militar e também ferramenta usada em investigações da Polícia Civil — afirmou o secretário de segurança do RS, Sandro Caron.
Segundo Caron, a atuação da SSP, através das forças de segurança, nas cidades maiores é a mesma que acontece nos municípios menores.