Nesta sexta-feira, 6, agricultores gaúchos deram início a uma série de manifestações simultâneas em pelo menos 25 localidades do Rio Grande do Sul. A mobilização, promovida pelo movimento SOS Agro RS, tem como foco principal a pressão sobre o governo federal para que adote medidas concretas frente à grave crise de endividamento que atinge o setor rural no estado.
Entre as ações, quatro tratoraços ganharam destaque ao se dirigirem diretamente a agências do Banco do Brasil, simbolizando o apelo por respostas efetivas às dificuldades enfrentadas pelos produtores.
“Estamos evidenciando a situação crítica vivida no campo e reforçando a necessidade de que o governo avance com a proposta de securitização das dívidas”, declarou Grazi Camargo, coordenadora estadual do movimento.
A recente resolução do Conselho Monetário Nacional, que permite a prorrogação de dívidas de custeio e investimento com recursos controlados por até três anos, gerou ainda mais insatisfação. Segundo Camargo, a medida é limitada e está sendo interpretada de forma desigual pelas instituições financeiras.
“Os bancos têm dado respostas diferentes, e muitos agricultores estão sendo excluídos do direito à prorrogação. O campo está em angústia”, afirmou.
Diante do cenário, foi instituído um grupo de trabalho interministerial, com representantes dos ministérios da Agricultura, da Fazenda e do Desenvolvimento Agrário, além de entidades como Fetag, Farsul, Famurs e OCB. Grazi destacou que o grupo busca construir uma “terceira via” nos moldes da securitização para acelerar a resolução da crise. “O SOS Agro está fazendo a ponte entre o produtor e o governo, mantendo o diálogo com todos os setores”, explicou.
A situação é agravada por um ciclo de perdas consecutivas: cinco safras comprometidas por fenômenos climáticos extremos, entre secas severas e enchentes devastadoras.
“Estamos lidando com uma tragédia contínua. As lavouras foram destruídas pela chuva, depois pela estiagem. Agora, vivemos o risco de um colapso econômico no meio rural. É um cenário inédito no agro gaúcho”, alertou Grazi.
Ela também criticou a ausência de uma resposta proporcional do governo federal diante da magnitude da crise. “Queremos respeito. O Rio Grande do Sul atravessa uma situação sem paralelo em outros estados. O produtor quer produzir, mas sem apoio isso se torna insustentável”, acrescentou.
Para Grazi, a crise ultrapassa os limites do campo. “Sem o produtor ativo, os municípios rurais perdem arrecadação. Isso afeta a oferta de alimentos e impacta toda a economia nacional. O problema não é só do agro, é do país”, ressaltou.
O movimento ganhou apoio de caminhoneiros e de produtores de estados como São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pará e Bahia. No entanto, a coordenadora reforçou o foco regional da mobilização: “Recebemos apoio de todo o Brasil, mas agora a prioridade é o Rio Grande do Sul. Precisamos de soluções imediatas para a nossa realidade.”
Entre os pontos com manifestações estão trechos de rodovias federais, como:
BR-116, km 362 – Tapes
BR-285, km 530 – São Miguel das Missões
BR-386, km 32 – Frederico Westphalen
BR-290, km 210 – Pantano Grande
BR-290, km 422 – São Gabriel
BR-392, km 642 – Guarani das Missões
BR-116, km 612 – Arroio Grande
BR-153, km 412 – Cachoeira do Sul (Ponte do Fandango)
As manifestações não têm prazo para terminar. “Se o produtor não tem condição de continuar na lavoura, vai permanecer nas rodovias até que haja uma proposta condizente com a gravidade da situação”, concluiu Grazi.
Na próxima segunda-feira, 9, às 14h, uma audiência pública será realizada em Brasília, por iniciativa do deputado federal Elvino Bohn Gass (PT). O evento discutirá temas como o Proagro, o Seguro Agrícola e o Plano Safra. Representantes do SOS Agro RS confirmaram presença e esperam abrir um canal direto com o governo federal para buscar soluções concretas.